
Eu narro sim, e tô vivendo.
MIRANTE
Aos que esperam digo não,
sim, nego;
Nego a linha do horizonte.
desespero no agora.
Aguarde um momento
Seguir em frente
ter um sorriso guardado no bolso
para dar de troco ao acaso sempre é bom.
Sempre é bom prevenir
sempre bom reter a indigestão das mazelas
em recipientes
E olha sempre à frente,
à frente de si.
e olha-se só de si pra frente
adiante, sigamos.
Em nome dos dias melhores
em nome dos dias que não se tendo
ter-se-a
Qual dia amanhã
com a paciência de certeza
e a incerteza da espera?
Qual dia virá
se vira-se ao avesso do presente?
E promessa futuras tornam-se dívidas futuras
a serem pagas quando o futuro for entregue.
Não aceitam devolução
Pois não devolvem o que não têm
mal o que têm, têm
não têm
terão
Então por que o nunca desse lá?
Porque há esperança
a resistir como um elástico
a distância entre o
agora do eu futuro
e o futuro do eu agora
cabo de guerra solo
de uma corda que está por ser feita
De como o dia e à noite
E a louça aumenta
nos dias
Quantas pilhas
nos dias
montanhas louçeantes
ora lavamos, ora sujamos
pra entreter as mãos
e os dias
a as louças
que crescem
Como roupas esquecidas no fundo do cesto
e os serviços de casa
renovados viciosamente.
Que como cascas revestintes
Que como indigestões
Que como rancores moídos granulados mastigados calmamente para cultivarmos em
[seguros vasos plásticos pretos com furos no fundo para não estancarem uma água [preta podre
Que como pia entupida
Que como engasgo
Que como todo dia a dia a dia a dia a dia a dia a dia a dia a dia
Que adia o dia em que o dia finalmente seria
Morrendo arfando emperrando
Morrendo arfando emperrando
Malditos restos
E a pausa
um dia porre
alucinogeante
diante Avante Espante
Palpita o frágil cardíaco dia
passa até ver sentido nas cápsulas cotidianas
para o susto e para a monotonia
e a pílula mais pílula
que pilula a vontade de não remediar-se
irremediavelmente
sem cura
E o dia até atura
a festa impura.
ó coitada.
dizia a criatura:
"Entendam, ela é escura!"
cochicou o dia ariano aos convidados não menos.
Ah mulata festa
Ah alvo dia
a escrava não presta
Ah, mas se prestasse como serviria.
E o dia abafa o gozo na fronha branca
branca fronha branca
Besteira
nem paixão nem nada
só fogo de palha
Paixão de Carne
paixão de carne escura Barata
o dia espuma a boca de desejo
Quero cravar-lhe um beijo
esculpir o seu fundo negro
e mostrar-lhe quem manda
nos segundos minutos tempos comandos tão certos ao meu passo pisado lacrado na
[lama em pedra que o caminho que caminhas, eu piso
afinal sou eu quem cheira rotina
Ô seu branco, tá mais cheirando a mofo!
Mofo o caralho, preta bunduda!
Esqueceu quem paga o seu colchão sua cama e o seu lençol
quem sustenta o seu sustento?
Ah, branco safado, quem me dá com o que vivo
é meu corpo minha bunda meu prazer
o meu negro é o que me sou!
Vagabunda ingrata, me dá prejuízo me nega me trai
e ainda vem dizer que não precisa de mim,
sem mim você é porra nenhuma!
É o que me falta, acha que sou burra,
eu fico contigo porque não arranjei um outro ladrão
que me dê suas migalhas
E ainda me vem pedir exclusividade?
Posso me vender mas não sou sua mercadoria!
os gritos reverberados interceptam-se
e ninguém distingue as vozes muito bem
escuta-se os murmúrios destoantes
nas câmaras internas
ecos escuros
tão gritantes são que transbordam nos poros transpirantes nos suores salivas fluidos
[óleos sebos
Cada gota expelida conservando a polifonia constante
os olhos embriagam-se na confusão crómatica
Daltônicos somos nós.
Mas mesmo surdos
cheiramos-nos tons.
Inté