22 de ago. de 2013

Volta quem vai




Amigos, leitores, internautas; olá. Na próxima semana darei início a uma saga que me propus a fazer. A essas horas, na semana que vem estarei em Nanquim na China, e por muitas semanas lá ficarei. Tomarei aulas de chinês no primeiro ano e no seguinte, se tudo correr certo, estudarei Paisagismo na Southeast University (ironia). Não sei como ficarão as minha postagens nesse blog por esse tempo; mas afinal ele tem sido o registro mais acessível dos meus versos para os que me conhecem antes da escrita e aos que me conheceram por ela. Deixo nesse abraço de palavras uma despedida com sabor de cumprimento. Aos que me lêem, meu mais sincero obrigado. E aquele que volta, é aquele que vai!





Levito
na via
Láctea



Superar Domingos
Priorizar Segundas
Acertar Cestas



Objeto VII

Muda a tal ponto
que nota a própria mudança
Desbota a gola
do terno de herança

Muda tão sutilmente
que se assusta no resultado
Como é que estava
o que hoje tenho estado



Objeto VIII

Luz do raio lebre
enquanto tartarugo trovão
O quanto o primeiro corre
o segundo não

Primeiro o brilho
Segundo o grito
Flashes ao vitorioso
Vaias ao vencido




Objeto IX

Os frios que minam de mim
sinto com afinco
são meus
sou deles

Não há como calar meus frios
tapá-los seria engulí-los
corram livres
meus filhos



Objeto X

De par com a vassoura
a moça valsa
Limpa sua dança
contra o chão

Baila cabisbaixa
fiel à magra companheira
E a vitrola lixeira
de saco cheio dessa marcha




Objeto XI

O pio do passarinho
é sumo de milênios
Piada entre evangelhos
berros, birras, hino

Pequeniníssimo som
indecifrável, imenso
Gastam seu silêncio
em cantos que precisam



Objeto XII

Esquento a água
Preparo o tempero
Corto, Descasco
Exagero no sal

Calculo o tempo
Esqueço a panela
Desvio a receita
Fabrico-me nela



Serpente

Conversava com as minha sombras
e elas não se expressavam por palavras
só desvios de olhares traduziam

fizeram sua visita noturna
os risos sedimentavam
e aflições afloravam

Sombras minhas
pedem chão

Recebo com assombro suas incumbências
e sinto vibrarem meus órgãos

Que conversa mais vã
eu gritando contra as trevas
e elas me cercando em um abraço
eu indagando entre silêncios
e elas apontando ao túnel turvo

Receio,
mas entrando me curvo

Pois são sombras
sombras minhas
sombras
sombrias








Inté

31 de jul. de 2013

Dôidio









Último dia desse julho. Um pouco de passado um pouco de futuro. Tenho mais feito coisas físicas, dedicado-me a impressões, mas esse site é a gênese e alimentá-lo é necessário. Mesa posta!





Locus

Lou
co
me
chamam
de
lou
co
me
cha
mam
e
acham
normal

Nor
mal
chama
rem
de
louco
quem
chamam
de
louco
e
acham
normal
e
chamam
e
acham
normal

Lou
cos
me
chamam
nor
mal
chamo
normas
chamo
lou
cos
nor
mais
de
loucos
de
mais

Lo
cam
aos
poucos
normam
os
outros
abrem
mais
lou
cos
de
den
tro
de
loucos
de
longes
locais

As
regras
dormem
nos
loucos
morrem
nos
loucos
normais
mor
rem
os
nor
mais
loucos
aos
poucos

Sou
chama
do
de
outro
por
outro
e
outro
me
chame
mal
me
cha
me
bem
igual
ao
louco

Cha
ma
me
cha
mo
en
xa
me
en
xu
to
em
choque
total

Chamam
me
pouco
a
pouco
ao
pal
co
com
nome
de
ator
principal
pa
gam
com
vaias
a
queda
final

Normal
fecharem
teatros
tranca
dos
por
dentro
os
atos
esqueçam
insa
nos
chama
dos
nor
mais
nada
de
mais

Lúcidos
são
os
que
apontam
os
dedos
aponto
o
espe
lho
me
espelham
faces
deduzem
receios
sãos
em
meu
seio

Ouço
vozes
diz
endo
devol
vo
meu
grito
e
rou
co
res
pondo
res
ponde
mos:
loucos

Lou
co
me
chamam
de
lou
co
me
chamam
e
acham
normal



Objeto I

Dos olhos aos ouvidos
Dois ombros aos dez dedos
Dos furos aos fios
Das pregas aos seios

Desde as coxas aos cachos
Desses cílios às costas
Dos pés aos desejos
Dos dentros às dobras



Objeto II

Contato um contato
Com trato um com tato
Contrato com contrato
Contacto com um

Contato com tato
Contato, um trato
Contrato, um tato
Contato comum



Objeto III

Na hora da despedida
não darei as costas
Terei a pegada que despista
curupira de rosto à mostra

Se virar, virarei duas voltas
irei sem perder de vista
Quando for não darei as costas
irei junto delas sem dar pistas



Objeto IV

A um dia atrás saí na rua
Vi o céu e o asfalto
Lembrei-me das ruas que não vi
que se espalham pela cidade

Andei pela calçada irregular
e em outras calçadas pensei
Outro dia fui à rua
e ela parecia ir comigo



Objeto V

Talvez a beleza seja uma bolha
olho de detergente
pessoa que exploda
Talvez dissolva na sua frente

Incertamente é uma bolha
superfície efêmera
limitada aos segundos
Transbordantes



Objeto VI

Seus oito vértices duros
em cada quatro paredes
Arestas dançam no muro
bloco bloqueia impede

Meu semelhante de terra
que por ser duro, acolhe
Me amarra me permeia:
tijolo tigela do homem








Inté

15 de jun. de 2013

Arapuca



Os três contos; "Brasil com z", "Zona Franca" e "Coca Lala"; que estão aí foram possíveis devido ao encontro que tive com o João Francisco Barros, que me apresentou o Brigadeiro Arjão. Vejam o que acham dos contos dele. No mais é tudo, bons dias...


Brasil com z 
     Dentro do ônibus nada supera dois reais, ou três. Marco Polo sempre prezou pelo capital, mas o ônibus não tinha ponto. Exclamava, exclamava... Cara! A vela queimava! Mas do destino eu duvidava.
     – Colônia! - disse sussurando o primeiro marujo enjoado.
     – Mais laranja para o convês - diz Pero Vaz aflito
     – Mais astronautas na órbita - diz Marcos Pontes.
     As esferas rebolam a séculos. Precisamos superar o doce de leite e os lampiões à gás. Mais Itaipu nessa joça - clamou Moisés. – Mar vermelho de cianofíceas, seleções marinhas fadadas ao fracasso.
     – Preciso de mais Américas para o meu mapa. Novos globos para essa terra chata - diz Marco.
     – Vamos ao Polo - emendou o marujo enjoado numa voz enovelada pela degola da embarcação.
     – Aquele cara era chatinho...
     – É mesmo? - alguém duvidou - Olha a terraaa!!
     Novamente alguém duvidou. Mas, aos poucos a tripulação era convencida pela silhueta de gigantes pelados e um denso matagal.
     – Não comeria ela, muito asfalto pro meu caminhãozinho.
     – Mas gosto do mar com todos seus pelos. Anêmonas dos cobradores.
     – Quais são as catracas? Os tubarões? - disse Pero.
     – Vais... Vais... caminha! - completou Pontes
     – Pelo que sei, a terra é gigante! Vamos depilá-la? - disse Marco, que já desembarcava.
     – Espera! Já vais? Não se caminha pelo mar... O tubarão mata...
     – Gal! Gal! Vamos à costa! - disse impacientemente Marco - O fantasma do espaço já está fazendo muita sombra!
     – Quanta sombra, minha noite é a estrela d’alva
     “A estrela d’alva no céu desponta!!”
     – Eu te amo Marco Polo. Sim, eu te amo!
     – Minha flor. Não tem onde caiba esse nosso contâiner. Talvez nossos filhos sejam excesso para nossas mãos. Irmãos, queimemos as naus!
     A embarcação foi o alvo de flechas flâmulas disparadas pelos gigantes que consumiam as caras. Mas as velas não acendiam! - Ação, Ação! - Todos embarcavam nesse calção. 
Brigadeiro Arjão



postes

Conquiste um style
destile
desfile
ponha no profile
compartilhe
comporty



Subi na balança
Pesava nós dois



Faço parte de um esquema
que cada parte
não sabe o que faz



Das menores pedras as maiores feridas



Cada caos é um caos



Repetição gera repetição



No meu país
Falam sem
Abrir a boca



Noite

Nasci fria, quase morta
o hálito que vazou do meu grito
era nitrogênio líquido, puro
Substância de pedras das geleiras que flutuam
Suava geadas em invernos constantes
Meu tato, que sopra
invade a fresta dos vidros
perturba o calor dos vivos
Riachos congelados chamam-me fria

Nasci escura, entre negra entre preta
roxo misto das sombras
rosto manchado de abismos
Par de asas insones: olheiras abrindo fechando
Se fecham as pálpebras percebem minhas penas
Espalhadas nos campos, plumas que disperso
cores de pólen intenso
bloqueio toda vista, cubro o céu imenso
Insetos luminosos chamam-me escura

Nasci eterna, descrente das coisas findas
o escorrer da minha ácida areia fina
incessa
Acompanho grão a grão de todo
Enterros
Derrames
meu cair constante descria desertos
definho as obras ditas mais fortes
Pirâmides duráveis chamam-me eterna

Nasci, percebam!
diariamente
amantes, olhos acesos!
Pois nada escapa da névoa do meu gelo
Pois nenhuma lâmpada esmaga meu voo
Pois já vi e verei o mundo ser poeira
aqueçam, acendam, pereçam!
chamem meu nome
Ou se esqueçam



Eu feito um ovo
entre
vivo e morto
frito-me de novo
na frígida receita
renasço remorro
eu
esse velho renovo



Perdoe essa escusa
, cara escura do meu brilho
mas me desabotoa
qualquer coisa suja
que me estranha
e me estreita o espírito


Zona Franca

     Debaixo daquela rua haverá um tubo. Cilindros dormindo que durante a noite desafogam feito ursos, muitos ursos! Muita bagunça! em plena paz...
     A recarga da descarga abafada pelo eco de poucas crianças estranguladas pela maciez de pelúcia barata: o urso saciado. O urso uiva:
     – Vão ao cano, sociedade barata!
     E as baratas reclamam um novo sindicato. O presidenta sentado na pele de urso rabisca seu nome. Dentro dos canos ecoam riscos de canetas que escrevem histórias paralelas. Os canos, os ursos, a tinta, na merda.
     O céu veste olhos azuis para sair de dia, à noite mostra a íris morena. Chora às vezes. Às vezes pisca-pisca. Sem nunca tocar os ursos e os uivos. Lhe apontaram um cano que correspondia à luz atrás de um olho azul. Aquele expressava em garoa o seu leve choro... o desencontro constante. Um ciúme cego! Um triângulo sem perímetro! Somente um bueiro flagrava a troca de lente, da Íris. Lentamente
     A paz faz pelúcias
     a paz faz delícias
     Um rapaz alimenta zoológicos com pipoca
     Abonada a paz de um céu nublado pensando absurdos:
     “- Se crianças esgoelassem
     se canos derretessem
     se gotas pesassem
     se ar-refecesse
     O que seria da
     física aplicada
     aos corpos...”
     Sua pergunta não tinha? fim. Pra isso deu de usar crack. (Não espalhem). Entrou no cano. O urso tinha estetoscópio mas a assinatura era perfeita. Gosta de olhar janela nas sextas, mas sábado era o dia da feira. O momento da presidento apresentar-se aos presentes.
     “A” cartilha anunciará o tráfico de drogas encanadas, além da localização do bueiro.” - Esta foi a mensagem projetada pela sombra de um amontoado de ursos em overdose. Íris estava na janela; tentando encontrar crianças encanadas e drogas estranguladas.
Brigadeiro Arjão



Era o dia se pondo.
aquela seriedade de lábios
aquela mudez
seria a própria sombra se expondo?
ou minhas cavernas
ou minhas trevas
ou meus espantos
daquela demolição ainda caem pedras
chove
feridas fechadas



nesse caça-palavra sem rumo
desisto e sphitrgumu



Lá dentro

Ah, lamento!
em mim você grita
pro mundo: silêncio



AFASTA-TE OU INFESTO-TE



Bizarre

J'observais
l'oiseau mourrir
Mais
avant
c'est moi qui suis
mort



O tempo voa na minha gaiola



Pés meus têm dimensões de países
ásias enormes
europas antigas

Pés meus não têm medida
avaçam na frente
ultramepasso



Coca Lala

     Tchába Lala, a pergunta de muitas respostas. A sublime sombra da jabulani, poucas faces, muitas curvas. Os cupins do didgeridoo se divertiam ensaiando letras em suas cartilhas.
     SO Let RAND O SOL E TRA ND O
     TCHÁ BAL ALA T CHÁ B ABALALA. Jonas corre ao banheiro pelo corredor longo. Seus pés soletram a estampa do assoalho. Ambos (Jonas e assoalho) torcendo! de modos diferente... Muitas letras a frente, A traz ia também. “A” cartilha já não trazia tranquilidade. O banheiro era alvo querido; mas inalcançável... O pequeno corredor da pequena escola da pequena áfrica. Jonas mata formigas e nem percebe, sua bexiga é pequena como a letra da cartilha.
     Cadarços causam acidentes. Não se pular e disser Tchába lala. Ao contrário: Coca Cola; que enche bexiga e cupim não gosta.
     – Eu gosto...
     – Foda-se!
     – Amém! Me amem! - Taeq exclamou - Sou somente um cupim pulguento! Trabalho o dia todo pondo gás na cola!
     – Coca?
     – Boa idéia! Irei ao cupinzeiro solicitar um fétido banheiro químico, um tubo de super-Bonder gelado, e algumas garrafas!
     – Jad-Log? É pra já?
     – Porra, mas eu pedi de calabrezza
     – Desculpe, não entendo Inglês. Não fiz Wizard, viver sem ciência sem fronteiras.
     – Mas isso não tem nada a ver com o Jonas ir pro banheiro.
     – Voltemos ao trabalho! Tchába Lala!
     Tchába, o imperdoável. Dominou todas ilhas de Marte durante alguns segundos. Seus banheiros eram à prova de balas. Censurava lustres e exportava gás, muito útil para as comunidades assistidas pelas escolas modulares de papelão.
 Brigadeiro Arjão



Eu, fruto de minha era,
como vindo de anciãs fruteiras
busco frases frescas
em uvas passas empoeiradas pêras

Retiro limo de cascas
descasco folhas secas
Talvez nem tão maduro
nutro abelhas



Dias entranhos
Esses que sinto virem
Das estranhas



Aos amanheceres
abro as rotinas
Retiro as sombras
das pálpebras cortinas



ô de casa!

Quem estando em mim consentiria
Quem está aqui e concorda
Bato dentro Ouço fora
Tudo que sinto
porta



O quanto desenho minha biografia
letras douradas
Auto lá, linhas premeditadas!



Vou tomar ar
pra ver
se me afogo



assim natura

Recebi um crachá com meu nome escrito à caneta
Não acho parecido
Devolvo cada letra

Essas curvas?
Minhas curvas?

Não
não sou eu
nem que seja



bibir

ter filtros
selecionar litros






Inté

12 de mai. de 2013

É no que crê



  

Olá colegas, como vão? Temos amostras de várias participações aqui. O "Atravessa" escrevi para a apresentação dum projeto que tenho feito para a faculdade nesse semestre; o "Encontraste" foi publicado na primeira edição da revista "Contraste" feita por um grupo de colegas meus, o tema da revista é memória;  o "Vinda do caos" foi falado por mim no encerramento da exposição "Pintura e Pensamento" do Roberto Polcan na galeria "la mínima", no dia declamei poemas enquanto o Pedro Zaidler tocou guitarra, duplarte; e o "Nome sujo" publiquei no site "Passa Palavra". E chega de journalisme, bom mês procês!



Mai Bôri


meu corpo
meu monumento
meu comportamento
meu como

meu mesmo
meu principalmente
meu privado
meu trono

minhas esperanças
minhas seguranças
minhas semelhanças
meus sonos

meu fim
meu sim
meu rim
miolo



POR VIR

Com quem estar com quem
alguém vai chegar
apagar a ausência
arriscar já está n'essência de quem
virá
verei
quem vem
conhecer sem
ter antes
visto
ninguém
dos que estão
estiveram
por
aquém do além
porvir



Por muito tempo não soube
como ser de energia
Até que um dia houve
um relâmpago
que mostrou que era
noite
o que eu chamava de
dia



 vida
um
vira
vira
uma
volta
vira
uma
vida
vai
vai
num
vago
dia
esgota



Atravessa

Que interesse nesse endereço?
Que interesse?
Qual a altura dos seus prédios?
Qual a altura dos seus habitantes?
Qual sua melhor vista, seu pior vizinho?
Qual seu índice de stress?
Quais seus cantos, seus caminhos?

Passam tantos todo dia
carros pagam pedágios
ônibus movem horários
pessoas pedem comida

E a viela ainda é estreita
goela que se engasta
a travessa da na garganta
a ruela
engasga

A fumaça lá se encrusta
entre muros serpenteados de fuligem
automordem seus espaços
estantes
estantes
estantes
de carros

Poucos a olham de frente
lá dentro arqueja sua história
Muitos dão-lhe as costas
com paredes e rampas fechadas

O escuro a resguarda e a esconde
a escreve e a apaga
acolhe e esquece
seu L oculto
descoberta
guardada

Se nesse endereço passassem
pudessem subir descansar descer
não fugissem depressa

Se nesse endereço morassem
pessoas que despertam
não máquinas paradas

Se nesse endereço comessem
quando tiverem fome
não sofressem por um prato

Por que não desejar
que lá desejem ficar
e quando quiserem andar
que sigam em frente?




o humilde de tão miúdo
amiúde não tinha
tamanho




Encontraste

Ontem encontrei num canto
essa velha caixa mofada
Lá jogada no esquecimento
cheia de riscos e amassada

Pus nas mãos para medir seu peso
e tive a estranha certeza
Que esmagava meus dedos
e ao mesmo tempo levitava

Estranho paralelepípedo
inesperado a todo sentido
Ora é gelo mais gélido
ora arde, aço fundido

Vejo o baú lacrado pela poeira
suspeitando já tê-lo visto
Não sei se é ele quem varia
ou se eu é quem me reviso

Exala mais de mil cheiros
esse túmulo tão cheiovazio
Suores brotam dos veios
traz-me rosas, incensos antigos

Ó meu cofre indecifrável
que sempre abrir é possível
Encontro-o no inesperável
pois é o que é invisível



Precisava dizer muita coisa
mas preferi deixar
tudo dito



Vinda do caos

Nasci fria
da primeira vez que meus olhos abriram tudo era escuro
julgariam-me morta se não fosse daquelas que não morrem
que são perenes feito pedra
pérolas negras congeladas

Vim ao mundo muda
uma ostra escura
uma ave negra na neve
que canta o próprio abismo
desaguando seu eco negro frio
um rio silencioso
atingindo todo ouvido
todo olho
toda pele

Arrepio os povos do globo
os poros do corpo
as cascas do outro
Pois nasci fria

E desenfreada corro
pouso sem repouso algum
logo que passo carrego meu manto
cobrindo a luz enquanto ando
entre violetas desavisadas
girassóis amarelos

Espalho o pólen preto
planando com o par de asas
entre flores e edifícios
voa meu vulto
meu mistério disseminado
invade o horizonte
debaixo de minhas asas
o céu se esconde
Pois nasci fria e escura

Mas é dentro do meu corpo
que ardem as fogueiras
e entre fumaças e madeiras
o ar se farta
por mim fazem lustres e letreiros
inventam cobertas e puteiros
e se encontram
e se embriagam

É por meus veios que os vinhos são esvaziados
por meus dedos desfiam segredos
e em mim se acasalam
pois de mim nascem os sonhos
de mim vêm os pesadelos
entre os meus cabelos negros que dormem.
Pois nasci fria e quente
Pois nasci escura e brilhante

Promovo as pontes
dos rios que não nasceram
ainda
Aonde estão

Quero seus peixes
e seus desafios
iscas riscos
Desejo a gota
na minha boca
seca

Ainda atrasam
ou eu
me adianto
nessa sede insana
erguendo estradas
entre lugares
que não são pontas opostas
Ainda

Quão numerosos são
mananciais represados
em outros estados físicos
indefindos
margens dissolvidas
plasmas por vir



Nome sujo

Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Um tanto gasto pelo uso
mas tão útil pela sujeira

Enlameio-o como um adulto
que num surto desnorteia
Intitula um jovem louco
que pede e rejeita a ceia

Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Mas não é o meu único
tenho outro na carteira

Esse abraça o menor desejo
Aquele medita, pensa, receia
Um ama a tudo no escuro
Outro obedece na sala cheia

Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Prefiro o que enferrujo
e prefiro o que é estrela

O que seria do brilho puro
sem a cara da sombra feia?
Pois o diamante que é duro
e o carvão quem incendeia

Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Não lustre o que é imundo
nem lambuze o que asseia

Evite o nome confuso
Tenha uma só cadeira
Sempre algum no repouso
Sempre algum que passeia

Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Meu tédio me deve muito
não nego nada que queira











Inté

9 de abr. de 2013

Vá de asa!

 



Bas tarde! Tamo aí de novo chaxando, e agora também em francês. Aceito correções com gratidão! 




Teroias

Teorias são hábitos
unem terroristas
e até melhoram hálitos

Ah Teorias
Todos dias descomprovando sábios



Fachada

Que mentira
essas orelhas
abertas
dizendo
que ouvem


Biografia: Eu, esse pacote de idéias que mija



proxima parada

algo mudou
do ou
tro extremo
do glo
bo

alguém se'ngas
gou no gri
to do
gol

no próximo
voo
sem escalas
sem atraso
novas chegarão



Não haveriam mais assassinos se matassem a todos



entes

Raiz que me fez
por trás já fui reis
já fui serviçais

Atuantes ancestrais
em mim atuais
seis
dez
sete milênios atrás
entre vocês eu andava
desconhecido

Pais de pais de pais de pais
que de países vieram
voaram nadaram correram
de casais em casais casuais
minhas raízes cresceram

Fizeram filho futuro fruto
depois que vieram
que a mim veio o mundo



errante

Dias vêm dias vãos
ando entre desvios
dou e doo desafios

nas ganas
nos enganos
ganho-pãos



Meio feliz
o homem
que só pensa
em meias



Permanência

Sempre estava
mas nunca ia
melhor seria
nunca ir pra
sempre estar



cúmulo

Não como.
Reclamam:
Que cúmulo!

Mas
como
comer
se nada
acumulo?



Vamos trocar de vida
eu entrego a sua
você devolve a minha



Graxa

Logo quando começou a
extravasar graxa pela boca
notaram algo de diferente

Começaram a olhar mais de perto
como um doutor se aproxima
do seu cliente

O óleo, que de princípio ralo,
foi ganhando espessura
diante das vistas

Nem repararam na mudança da cor dos olhos
no diferente ritmo dos passos
a nova altura

a seleção dos amigos
os pelos eriçando feito corvos no campo
nem na mudança da assinatura

A graxa é mais negra
talvez valha mais
talvez fale menos



ESTRELETRAS SOLETRAM TEU NOME


ditame

Vida não é coisa de só
tá mais pra fé
tá mais pra nó

Vida não é coisa qualquer
tá mais pra quem quer
tá mais quiproquó



Talvez fale
demais talvez



Voulovoar

Qu'est-ce que je sens
il n'a pas de sens

Je veux vous
et c'est tout

Mes yeux parlent
ma bouche chuchote
mon corps m'incorpore

et vous
volez avec mon vouloir








Inté

6 de mar. de 2013

Para lavar o que tem que limpar









Mês chuvoso. Só pra manter claro, cada varição de alinhamento do texto é um novo poema, às vezes sem título. Fica a fita:



Chove meu 
corpo pela
cidadela
na janela
cubos de
meus ossos
cutucam o
vidro. Cortei
-me para fugir
para mim. Caio
com um raio
veloz feito a luz
perco a tez
troco a voz
escorro nas
esquinas dos
encontros, mas
me escapo.
Encherei os 
bueiros e os
carros serão
barcos
derivando
na minha
superfície



Esbarros do dia
não suprem os sufocos
noturnos. Não
passo de um
ser vivo servindo
de si mesmo para o sim
e os encontro
ius encontros que faço?
Não fugirei
no perdido passo
ergo a cabeça
para encarnar
o fundo



Já rasguei os contratos 
de guerra
coloquei-os por terra
caíram as folhas 
secas. Dos
húmus, berços de
sementes, pescoços
verdes sustentam
meus olhos




Os homens tristes
fecharam a janela
O vento
num só
movimento
Varreu os ânimos
Já se foram os furacões
resta a tela sombria



 carma coça sarna
pulga não salta
praga rola solta



O que tenho a dizer para mim
troveja no que digo aos outros
Paro e ouço




Nada confuso
o parafuso
Pra ser expulso
anda ao revés



Pergunta-me
o que já sabe
Respondo o que não sei
Diz o que queria ouvir
Paira um ignorante
Porque



Todo dia chove às cinco horas
as nuvens me servem de relógio
Melhor ter guarda-chuva
melhor ter relógio
Vai que ando na rua
e começa cair lógica
na minha cabeça



Público

Prego na forca
até a cabeça na corda
morto
duro
ar e olhos são cova
grudados
na memória


Rosa à esposa
Amante à ardosia
Uma atração cheirosa
por musa rochosa










Inté

31 de jan. de 2013

Cacos caros





Falando do tempo...



Garimpo 

Vasculhou a rua
a procura do que valha
Correu à avenida
tomou a autoestrada

O asfalto sucedia
mas não se contentava
Levantou o que estendia
embarcou noutra escada

Subiu avançou
foi adiante
rodando voo

Degrau em frente
tropeçou no
céu diamante



CENA

Será que se abraçam ou se estrangulam?
talvez se demorem num cumprimento
ou se evitam na despedida?



Minha mente correu mais 
que minhas pernas
Mais percebo pedras
do que dou mortais



Costumes

Em Caminho Curto
não há quem se abrace
ou dê a mão

Olham no olho
e põem-se a girar
Quem vomita primeiro
continua andando
o outro para
e arranca uma folha
da árvore mais próxima

Os lixeiros de lá são
naturalmente cegos e muitos
e os cactus dominam
sua paisagem

Novos caminho-curtanos
não perdem mais tempo
tomam pílulas de enjoo imediato
e chutam as pedras que permeiam
a moderna mata de árvores
plásticas



Logo inventa linguagem
mal mama
Já jejua a vontade



Extrapolações

Naquela quadra mora alguém
Quem
lá mora?
Além daquele morro mora mais alguém
Quem
lá mora?

Aonde ficam sem descanso?
Agrupam-se em famílias?
Nutrem-se quantas vezes?
Sabem ler quais livros?
Primeiro escutam ou primeiro lambem?
Inventaram que instrumentos?
Suas mesas tem quatro lugares?
Seus homens e suas mulheres usam saias?
Têm roupas?
Perguntam sobre os homens
que moram além do morro?
quem mora além do morro?
Além do além do morro?
Lá estão?

Indagam



Percebo cores além dos carros
Nas frases vejo humores e recados
vou por entre entes e ignorados
medindo preços e pesando fatos
Meus conhecidos, esquecidos e lembrados
Lutam em mim, meu âmago é de aliados











Inté