12 de mai. de 2013

É no que crê



  

Olá colegas, como vão? Temos amostras de várias participações aqui. O "Atravessa" escrevi para a apresentação dum projeto que tenho feito para a faculdade nesse semestre; o "Encontraste" foi publicado na primeira edição da revista "Contraste" feita por um grupo de colegas meus, o tema da revista é memória;  o "Vinda do caos" foi falado por mim no encerramento da exposição "Pintura e Pensamento" do Roberto Polcan na galeria "la mínima", no dia declamei poemas enquanto o Pedro Zaidler tocou guitarra, duplarte; e o "Nome sujo" publiquei no site "Passa Palavra". E chega de journalisme, bom mês procês!



Mai Bôri


meu corpo
meu monumento
meu comportamento
meu como

meu mesmo
meu principalmente
meu privado
meu trono

minhas esperanças
minhas seguranças
minhas semelhanças
meus sonos

meu fim
meu sim
meu rim
miolo



POR VIR

Com quem estar com quem
alguém vai chegar
apagar a ausência
arriscar já está n'essência de quem
virá
verei
quem vem
conhecer sem
ter antes
visto
ninguém
dos que estão
estiveram
por
aquém do além
porvir



Por muito tempo não soube
como ser de energia
Até que um dia houve
um relâmpago
que mostrou que era
noite
o que eu chamava de
dia



 vida
um
vira
vira
uma
volta
vira
uma
vida
vai
vai
num
vago
dia
esgota



Atravessa

Que interesse nesse endereço?
Que interesse?
Qual a altura dos seus prédios?
Qual a altura dos seus habitantes?
Qual sua melhor vista, seu pior vizinho?
Qual seu índice de stress?
Quais seus cantos, seus caminhos?

Passam tantos todo dia
carros pagam pedágios
ônibus movem horários
pessoas pedem comida

E a viela ainda é estreita
goela que se engasta
a travessa da na garganta
a ruela
engasga

A fumaça lá se encrusta
entre muros serpenteados de fuligem
automordem seus espaços
estantes
estantes
estantes
de carros

Poucos a olham de frente
lá dentro arqueja sua história
Muitos dão-lhe as costas
com paredes e rampas fechadas

O escuro a resguarda e a esconde
a escreve e a apaga
acolhe e esquece
seu L oculto
descoberta
guardada

Se nesse endereço passassem
pudessem subir descansar descer
não fugissem depressa

Se nesse endereço morassem
pessoas que despertam
não máquinas paradas

Se nesse endereço comessem
quando tiverem fome
não sofressem por um prato

Por que não desejar
que lá desejem ficar
e quando quiserem andar
que sigam em frente?




o humilde de tão miúdo
amiúde não tinha
tamanho




Encontraste

Ontem encontrei num canto
essa velha caixa mofada
Lá jogada no esquecimento
cheia de riscos e amassada

Pus nas mãos para medir seu peso
e tive a estranha certeza
Que esmagava meus dedos
e ao mesmo tempo levitava

Estranho paralelepípedo
inesperado a todo sentido
Ora é gelo mais gélido
ora arde, aço fundido

Vejo o baú lacrado pela poeira
suspeitando já tê-lo visto
Não sei se é ele quem varia
ou se eu é quem me reviso

Exala mais de mil cheiros
esse túmulo tão cheiovazio
Suores brotam dos veios
traz-me rosas, incensos antigos

Ó meu cofre indecifrável
que sempre abrir é possível
Encontro-o no inesperável
pois é o que é invisível



Precisava dizer muita coisa
mas preferi deixar
tudo dito



Vinda do caos

Nasci fria
da primeira vez que meus olhos abriram tudo era escuro
julgariam-me morta se não fosse daquelas que não morrem
que são perenes feito pedra
pérolas negras congeladas

Vim ao mundo muda
uma ostra escura
uma ave negra na neve
que canta o próprio abismo
desaguando seu eco negro frio
um rio silencioso
atingindo todo ouvido
todo olho
toda pele

Arrepio os povos do globo
os poros do corpo
as cascas do outro
Pois nasci fria

E desenfreada corro
pouso sem repouso algum
logo que passo carrego meu manto
cobrindo a luz enquanto ando
entre violetas desavisadas
girassóis amarelos

Espalho o pólen preto
planando com o par de asas
entre flores e edifícios
voa meu vulto
meu mistério disseminado
invade o horizonte
debaixo de minhas asas
o céu se esconde
Pois nasci fria e escura

Mas é dentro do meu corpo
que ardem as fogueiras
e entre fumaças e madeiras
o ar se farta
por mim fazem lustres e letreiros
inventam cobertas e puteiros
e se encontram
e se embriagam

É por meus veios que os vinhos são esvaziados
por meus dedos desfiam segredos
e em mim se acasalam
pois de mim nascem os sonhos
de mim vêm os pesadelos
entre os meus cabelos negros que dormem.
Pois nasci fria e quente
Pois nasci escura e brilhante

Promovo as pontes
dos rios que não nasceram
ainda
Aonde estão

Quero seus peixes
e seus desafios
iscas riscos
Desejo a gota
na minha boca
seca

Ainda atrasam
ou eu
me adianto
nessa sede insana
erguendo estradas
entre lugares
que não são pontas opostas
Ainda

Quão numerosos são
mananciais represados
em outros estados físicos
indefindos
margens dissolvidas
plasmas por vir



Nome sujo

Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Um tanto gasto pelo uso
mas tão útil pela sujeira

Enlameio-o como um adulto
que num surto desnorteia
Intitula um jovem louco
que pede e rejeita a ceia

Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Mas não é o meu único
tenho outro na carteira

Esse abraça o menor desejo
Aquele medita, pensa, receia
Um ama a tudo no escuro
Outro obedece na sala cheia

Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Prefiro o que enferrujo
e prefiro o que é estrela

O que seria do brilho puro
sem a cara da sombra feia?
Pois o diamante que é duro
e o carvão quem incendeia

Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Não lustre o que é imundo
nem lambuze o que asseia

Evite o nome confuso
Tenha uma só cadeira
Sempre algum no repouso
Sempre algum que passeia

Guardo um nome sujo
pra quando quero brincadeira
Meu tédio me deve muito
não nego nada que queira











Inté