19 de dez. de 2010
Outro prato novo na mesa
Mais cartuns, pra quem nunca viu eu já fiz outros. Esses também fiz atrás de prova. Pra ver maior e melhor é só clicar na imagem.
9 de dez. de 2010
Céu da boca
Outros ossos
seus,
se juntaram no meu esqueleto,
firmaram-se na caveira,
fizeram,
brotaram,
como se você fosse seus ossos,
minhas lembranças,
meus pedaços,
Que se juntaram no seu osso,
e fizeram-se branco dentro do meu músculo,
dentro de mim
as e os novos corações
cantam a vida
e vivem canções
os e as velhas.
Meu Deus!
tentam lembrar seus refrões
na corda
O que fazer se não morrer
quando só existe dor?
E viver? nem sei,
se assim carrasco ou salvador
Ah! Naquele tempo gostava dela
Mais dez anos depois de separado
ainda Mais dez vezes tinha gostado
O que era tão bom
Era até mentira
Casamento perfeito
Já arranjei alguém
que me elogie
regularmente
serter
O quê você vai ter quando você crescer?
Eu sou um carro novo
Nem se eu roubasse conseguiria ser
Eu tenho a voz do povo
Degustação
Porei-me em um prato de prata
não só a minha cabeça
mas minha carne farta.
pra ver se arranjo algum acompanhamento
na mesa já posta.
Amaciei-me.
Tirei azedume.
Lavei o cheiro.
Limpei estrume.
Oferendei-me em partes deglutíveis.
Ainda entalo em algumas gargantas
mas a mim tenho gostos aceitáveis
Surpreendo eu mesmo no banquete,
afiando os talheres, apreciando cardápio
Será que comendo me deleite?
Estou cá vendo esse porco assado,
mesmo sendo eu, porco.
Estou aqui,
aguardando.
Pode ser que sirvam
alguma consciência bem temperada.
o que diferencia
óxido de diidrogênio
de
água?
algumas letras,
alguns óculos.
Deve ser isso que significa
sujeito letrado.
Inté
26 de nov. de 2010
Cantinho da disciplina
beirada
Está por acabar
O quê?
O meu medo do fim
É tão bom ser retórico
idéias sobre idéias
juros sobre juros
que pagando as prestações
do que falo,
nem distingo
calmaria de apuros
DISCIPLINA
Até onde vou
em minha disciplina,
que até me leva
a um onde não sei
que acabo sendo.
E o qual me incomoda
num onde nem sei onde estou,
pois tanto as coisas que sinto
cá lá estão,
cá lá estou.
e o que não passa de mim
aonde fica perdido
em um mim onde não sou
qual eu realmente sou?
qual meu realmente seu?
Arquivista
Cá com as minhas cãs
cavuco lembranças sãs
Que lembram da vida que tive
e da que não
Procuro-me algo que recorde,
um ai, que seja,
um algo que esteja
em mim a caducar
Vou procurar,
aguarde,
em algum momento estarei presente,
quando voltar
a última lembrança ausente
Verborragia
Sou homem de palavra
de palavra
de palavra torta
de palavra muda
que muda
que mudo
Graffus,
grafismos,
grafites,
graffite,
gravado,
gravura,
grave,
grave palavra
fissura,
Me de componho
no verbo,
ser sí lá bar,
me particulo em orações atéias,
palavra a pronunciar
Não sei em quem acredito,
Não sei quem,
Não sei.
Sei
não.
Eu
COF
Te
COF, COF, COF
Ama... COF, RRRGGH, PLOC
ria.
Inté
17 de nov. de 2010
Vai pro pau
Novembro enfim.
Quems?
Eu amo ninguém!
Ah, como amo!
Mesmo só, ainda assim
anseio a sua presença
Amo em mil formas, mil jeitos,
até desamando: estou amando ao revês
Ninguém, ninguém,
ninguém mais assim pra te amar.
Estou cá a servir-te com este sentimento
que não serve de nada
E mesmo que alguém venha amar mais,
Estarei satisfeito sabendo que
ninguém me ama
Não sou do contra
Sou do eu
É que tem tanto contra
que acabo sendo
Agora
Agora, o que eu quero
É que tu me entenda.
Saiba que eu não sei
como saber nada.
Mesmo que vontade
venha sempre vir.
Saber nada, é
saber se iludir.
Sei, sou cruelmente
algo da minha mente.
Tão so consciência,
que é nó incessante
Descansar por um
momento que seja?
Daí talvez insista
pois talez não veja.
Quantas coisas que
não deixa de ser
nunca. Sempre estar.
Sempre algo a ver.
Posso parecer
até desconexo,
você permanece
no eterno gesto;
que enquanto exala,
nem mesmo percebe
o árduo duro peso
do momento breve.
ou
Persistência
ou
Paus e barracas
com quantos nãos
se faz
um
sim?
Inté
24 de out. de 2010
Conta um ponto
Publicando um conto. Escrevi esse faz um tempo, em 2007, quando estava no nono ano. Eu acho ele interessante.
Nada mais que lixo
Nada mais que lixo, nada menos que odor. É como um depósito, não se sabe ao certo o que é. Só se sabe o que existe. Muita lama, muito saco, muito plástico e muito vidro. É um junto de muitos. Desorganizados e jogados para outros muitos catarem esses. E no muito um pouco mais vivo José está. Ele sua patroa e seus seis pequenos pupilos. É uma vida, dura talvez. São exímios alpinistas, pois ao escalarem os muitos, sentem-se mais do que muitos, mais do que pensam ser. E vão indo sendo, e sobrevivendo, co-existindo por outros muitos.
É um dia, nada mais e nada menos, só um dia. José sente-se mais, e pela energia súbita, cata mais plástico e mais vidro, pensa que terá mais lucro, e assim continua a catar, a cantar, a tentar. Caminha, corre, escolhe, olha para as nuvens a se formarem e grita aos companheiros que choverá, acelera sua mão e seu passo. Cata um bocado de filhos também, e corre à cabana. Suado do trabalho e molhado pela chuva, depara com a mulher e lhe diz:
— O quê que há mulher, não foi catar hoje?
— Nada não José, resolvi dar uma varrida na nossa casinha.
— Ah bom, pensei que tava passando mal. Dá-lhe um beijo de boca molhada, sentem o sabor da água e o sabor de ambos, permanecem assim a desfrutar um do outro, a sugar os bons e maus momentos, partilhando-se
, querendo-se. E um trovão os separa e assim voltam à vida e à lona furada, que escolhia ficar encima da cama. Lá vão eles mudar seus móveis que ditados pela chuva fugiam. Demoram nisso, pois as suas quatro mobílias custavam dançar sobre o chão lamacento. Acabam, encharcados e embebidos de lama. Nessa árdua tarefa gastam o tempo que seria do banho, mas esse momento não teriam. Devido à cabine da ducha, que fica lá fora, estar mais suja do que eles. Dormem enlameados e carimbam o colchão com as digitas de seus corpos. Os seis filhotes empilham-se em dois colchonetes; já que um está pura água e inutilizado pelo barro. Quem vê aquela família ilhada no seu barraco de lona preta estranha, mas fecha os olhos.
Acorda outro dia, ainda com o resto do chover antigo, nubla-se. Um dia de nuvens leves e pessoas pesadas. José acorda com a nesga de sol que rompe a lona. Abre o olho preguiçoso e pensa em sua desgraça, no escuro oculto que estava. Lamenta, porém não pensa muito. Pensar não é seu ofício, é seu ócio. Levanta e desperta os outros, ainda bêbado do sono bambeia nas pernas e chuta umas poças. Esfrega os olhos e desagrada-se com o que vê, esfrega de novo e lembra que é nesse mundo que vive. Sua mulher, que acorda os meninos, afaga-lhe as costas e o cumprimenta com um abraço. Logo vão aprontar o que comer, vão à caça. Os meninos junto com a mãe caçam perto de casa, entre sacos pretos e azuis identificam restos de bolachas mordidas, frutas pouco estragadas, ou mesmo pães, um tanto mofados. Já o pai aventura-se nos picos distantes e inóspitos, onde talvez achásse raridades como brinquedos, peças úteis, objetos arranhados ou mesmo dinheiro. José afirma que é um trabalho digno e que compensa o esforço, sua mulher não. Nesse dia que ele procura um algo mais em um muito mais longe, repara num saco vermelho. Saco vermelho, existe? É o que José diz. Rasga-o, e nele só vê papéis amassados, muitos; que dariam uma árvore. Ele cava, e no monte de celulose vê uma carta, de mesma vermelha cor. Vê ela, a joga, mas a recupera no ar e soca-a dobrada no seu bolso. Cata mais um tanto de coisas e volta exausto e sujo para casa. O sol já se enlaranja e mistura-se em um frenesi de cores. José não percebe. Chega em casa com a família já limpa e aguardando seu banho. Lava-se e usa a mesma roupa, as outras ainda não prestavam. Sentam-se em volta da cama, rezam e depois do ritual comem um tanto de coisa catada e outro tanto comprado com o lucro das coisas catadas. Dormem, tentam sonhar, tentam.
Rasga as pálpebras. Quer acordar, mas o sol não vem. Levanta, mas sente algo em sua calça, percebe, lembra da carta vermelha. Tateia ainda deitado e esticando-se consegue capturá-la, vê seu tom vermelho molhado. Titubeia e a abre, vê sua folha pautada cheia de tintas e curvas; não entende, mas acha que são letras. Fica lá, a contemplar tantas harmoniosas curvas. Estonteado é atraído por elas. Suas formas, que não são inéditas, parecem mais que o comum. Não faziam parte do muito, eram muito mais. Delira e imagina mil e uma imaginações para aquelas curvas, queria deliciá-las, desvirginá-las. Mas sua ignorância o limita.
Por estar assim tão navegado, não percebe que o sol está a um palmo do chão. E sua mulher interrompendo seu transe, o joga ao precipício da realidade. Desiludido sai da cabana para catar. Lembra-se nas pausas do respiro, das vermelhas cartas dos vermelhos sacos; perseguiam-lhe a mente. Quer mais do seu vermelho, quer mais do seu sangue. Sendo assim volta aos picos distantes e lá busca seus vermelhos sacos. O primeiro que acha já não tem tantos papéis quanto o outro, mas sua carta vermelha o aguarda; no fundo camufla-se, mas está lá. Acaba que é pega por ele. Ele a guarda, e sai à procura, quer mais, quer ver mais vermelho, mais. Em sua louca saga, encontra mais quatro. Exausto, sem força, rasteja até a cabana de lona preta. Tonto de esforço via sete vultos, e sem interesse precipita na cama. Fecha e abre os olhos constantemente, sua curiosidade pelas curvas ali inscritas era infinita, e sopitava aos olhos impedindo seu sono.
Sacode sua esposa, quer desvendar o labirinto das cartas vermelhas. Ela sonolenta o questiona, porém diante da sua insistência cede. À beira da fraca luz do barraco começam a abrir as cartas. Ela passa os olhos, o encara. Ele a pede, suplica, que o narre aquelas letras. Ela, sem caminho, começa. E linha por linha, parágrafo por parágrafo, vai falando. Conta a história de uma mulher. Que entre ódio e amor fala do seu amado. Ela é a serva de sua realidade e de um marido opressor. Conta seu primeiro encontro, seu segundo beijo, sua terceira ilusão. Na última carta ela quer a morte de seu amado, quer seu sangue, quer a morte em seus olhos. José, de olhos vidrados, pensa paralítico. Levanta da cadeira e arruma uma trouxa. Em sua única palavra diz “Adeus”. Sua mulher corre a porta e o vê partir.
Saberão mais tarde, que mais um homem foi assassinado, e o assassino em seguida suicidou-se. Bradava “Canalha” com algumas cartas que tinham o endereço do morto na mão antes de dar os dois tiros. Também saberão que as cartas vermelhas eram um diário escrito em outra língua qualquer, que a nossa narradora desconhecia. Saberão ainda que esse muito pouco, cresce e se torna muito e se acumula, mesmo enquanto ainda sonhamos.
Inté
8 de out. de 2010
Piloto automático
No Cerrado, Chove.
vigia
As águias rondam o céu
Cuidado!
Para não se sentir
um
rato
O guarda cruzava os braços deprimido
a ele restava
os seus braços cruzar com o bandido
A cada novo ovo
, uma nova omelete
Autômato
Falo frases feitas
por preguiça de fazê-las
Digo tudo, quando digo algo
Digo igual, quando digo diferente
Digo todo dia, quando às vezes
Digo é mesmo, quando não é assim não
Digo não sei, quando sei sim
Digo bom dia, quando não te conheço
Digo tudo bem, quando nem tudo
Digo, quando calo
Penso idéias feitas
por vontade de desfazê-las
achação
sinhá, sinhá
seu mucambo deu de achá
sinhô, sinhô
que o pobrema tá na cô
nhá, nhá, nhá, nhá
mó de que num qué apagá
nhô, nhô, nhô, nhô
as costa preta do seu brancô
Gamia
joão à maria
, a dora ria:
só uma mulher
Endorfina
E eu tão útil
que fora à utilidade,
fútil.
— Foi você, né?
— Foi,
mas ... não foi não
quando cheguei já tava
um pouco feito
Eu
É
E
Eu
só fiz porque quis,
você vê, eu já desfaço,
olha aqui, ó
Ó, ó.
Pronto não tem
mais nada
viu,
prontinho como estava.
Entenda
(coça a cabeça)
Tenho medo
do você que tá em mim.
Não me reprove
, por favor,
ou me mata por
dentro.
Escrevinhador
Feito o retratista
que do próprio acidente
faz notícia.
Inté
1 de out. de 2010
Não sei quem fui
E um ano já vem acabando.
portátil
O guarda-chuva
guarda-gente da
chuva-que-não-guarda
ou
Elevador
ou
aquecimento global
ou
Insegurança
ou
mão-amarela
Sempre penso
duas vezes
antes de peidar
a chuva foi muito forte,
mas
não tivemos muitos danos
morais.
Deus me livre
Sou tão livre
quanto a tranca do box do banheiro,
rodo pro lado
— Liberdade
rodo pro outro
— Prisioneiro
Por quêrer?
Ao lado que me ponho
,cem motivos explícitos,
alio-me apartado
com partes que me mutilam
multido-me
por cá defendo, por cá ofendo
atuo por contração
O vagabundo anda
na noite vazia,
tão cheia de rua,
e nada fazia
Andar simplesmente pelos bares, bebendo catando fumando lugares, até cantou amor."Ai, Eva te quero muito". Pensou vida, idéia. Feliz sorriso. Laiá Laiá. Caminhou na praça
Mas a praça estava vazia
só as flores e os bancos negros
que sussurravam qualquer coisa
nós coisas que temos sossego
Assossegou por um instante, parou no banco. Misturou as idéias, lentamente, até que elas não pudessem distinguirem-se. Gritou qualquer merda em bebedês, e saiu.
Confuso
confuso confuso
confuso
com
Com certeza de que o dia nasceria virou sóbrio, para vestir responsabilidade cansada mentira verdade, para ir engolindo o tempo, pra ir nascendo, pra ir vivendo, pra ir, pra ir pra onde mesmo? pra ir. pra ir. pra ir. parir alguêm que aguentasse, pai-bêbado-filho-sóbrio.
garrafa quebrada
que caco que nada,
só mais um pedaço
desse firme frágil aço
tão inocente,
tão besta
tão pequena
tão amarela
que cismei em dar-lhe
o nome
de amanhã
tele
Te vi
Te vi
Ter ver
Ter ver
Ter ver
ver te vi
ter
ter
ver
ter
intenções
Árvore entenda,
o que quero contigo
é lenha
Inté
20 de set. de 2010
oLé!
Os que eu mais dei folego foram "desvio" e "Pontual", mais no primeiro do que no segundo. O resto são esporádicos poemas; mais fáceis, ou proto-poemas difíceis.
momentum
Sentir
tão aguda felicidade
que rompe a manhã,
mata a noite,
pare o dia,
Uma só agulha
faz o verão
Enterro minha tristezas
em covas mais diversas.
Com a pá bato três vezes
na terra fofa,
PAF
PAF
PÉIM...
... outra pedra que surge
Lá me ponho a cavar
novamente,
cavar,
cavar,
cavar,
cavando
tristemente
3,2,1,
homem-pomba,
homem-pomba
voa em pedacinhos,
alastrando a paz em seus miúdos
paz vermelha,
de tão branca
direita, esquerda, tchap, tchap
esquerda, direita, tchap, tchap...
e o verão continua.
ou
(Bater do sino)
Tanta lata desovando filho,
que mesmo filho parece lata
Na troca mútua de humilhações
todos saem ganhando.
desvio
Bom é ver
como seus olhos tem medo
de outros
Vê você:
par de toureiro atiçando
dois touros
De noite eu rirei
Todas des graças que de dia engoli?
E mesmo acertando o que errei,
E será que me perguntando
desenterrarei minhas próprias respostas?
Pois meu desespero já anda olhando,
como inventam e chicoteiam-se costas.
Autístico,
a aute pelsegue
o autista,
outlo mundo,
sulealista.
Pontual
Com pontos juntei.
minha carne que separava,
quebrada uni,
Forçei à coladas
Com pontos quebrei.
minha carne grudada,
pregada separei,
Rasguei à pontadas
Por pontos eu passo.
Cirurgicamente.
ponto à ponto
passo à passo
consturando
despontando me acho.
Inté
14 de set. de 2010
Gosto discutível
Escritos novos.
― Eu pus na salmoura.
― E se eu nunca te amasse?
...
― Me passa a cenoura,
me dá o alface...
Olhos nos olhos
Acreditaria em mim
se fosse preciso;
pois com meus olhos vesgos,
que olham a si mesmos,
só enxergaria necessidade,
em outros olhos de mim tão esmos.
Outros olhos,
a desentender-me:
obtuso globo oblíquo.
Sendo eu desajuste ocular;
lugar em mim tão longínquo.
didática
desde muito fui adestrado
a bater palmas,
comer de garfo,
não peidar na mesa,
amar com dor,
desejar aos poucos,
passar de ano,
não morrer,
tenho aprendido meu número da roupa,
como minhas calças dizem das minhas pernas,
a honra do sofrimento,
que as horas não tem brincadeiras,
que o céu não é verde,
Estudos: são integrais,
um curso fixo da grade.
Caderneta na mão não adianta
não vai conseguir copiar tudo.
Vá absorvendo, vá!
Não lhe faltarão
provas,
nem surpresas
Sem-graça estava,
todos sorrisos,
todos abraços,
e ele? Nada.
cantaram salsa,
contaram história,
compraram-lhe par,
convocaram partido,
Contudo, nada.
sem ele
se desencontrava.
Julgue os itens a seguir
e marque
I para inocente, e
C para culpado
Baco
Fiz uma festa
para meus inimigos
mais íntimos.
Todos vieram.
Um trouxe absinto,
Uns trouxeram arsênico,
Vieram camarões,
amendoins,
pólens,
na esperança de uma alergia.
Ah, quanta alegria,
xingavam,
gritavam,
bebiam,
e quando necessário até sorriam.
E pude me expor à vontade,
mostrando-me alvo,
na mira de tanta bondade,
Lá podia cair no chão,
rolar,
amar, até.
Os doces venenos que traziam,
as puras invejas,
os orgulhos macios,
conversas pretenciosas,
todos intenções,
Eu ouvindo tudo,
Sendo eu anfitrião tão decente,
tratava-os merecidamente
mal.
Cantavam, calava
Escarravam, beijava
Estava sentindo
, em meio àquela companhia,
como o mais inteiro oposto.
e sorrindo punha outro rosto,
O sobrolho que me vinha
era o mesmo dos convivas,
aquela velha mistura
que está entre
ovos
e
vivas
Posso até concordar
com o que dizes,
mas te defenderei
até
a
morte
.
Inté
6 de set. de 2010
Sem ramo de oliveira
Primeiro um hai cai, sei lá se é mesmo, depois uns (a)normais. Tamo aí esperando alguma coisa pra motivar a espera.
Uma mulher
cheia de vírgulas,
nunca chega ao ponto.
Cachorro é o melhor
amigo do homem
que é seu dono
Doutro
Se enjoasse do gosto da minha língua,
dos fios dos meus cabelos,
Se negasse o que penso,
o meu corpo,
Se estranhasse meu passo,
meu rosto,
Se fugisse
Se me levasse
me rejeitasse
Ah, se
fosse!
Seria um exemplo.
Porque me sinto jogado,
sem motivos ou explicações,
só ali,
num canto de mim mesmo.
quando tropeço tomo cuidado para não cair em mim.
praga branca
Rasguei a paz
para examinar seu intestino,
advinha quem engolia?
Toda diferença,
todo indivíduo,
até ela mesma necessitava engolir-se.
Certificar-se,
Cuidado quando em paz,
pode estar morto,
pode estar engolido,
monoálogo
que coisas você me disse?
Pois eu só fui surdo de propósito.
Mesmo que tenha dito sem êxito,
"Pra ti sou toda surdice."
Inté
28 de ago. de 2010
Dizgosto
Furtivo encontro
Um peixe perguntou ao outro
De onde vens?
Ah, venho de águas frias do ártico, E Tu?
Venho das calmas ondas do mediterrâneo.
Amaram-se loucamente,
trocaram histórias, lembranças e fluidos.
Amaram-se eternamente
por sete semanas.
Até que um dia a bela ibérica fora levada
Partiu triste por um carrinho, sem a tão dolorosa despedida,
Nosso nórdico só viu a ponta da embalagem de sua amada,
Sumir na curva do horizonte.
Chorou lágrimas congeladas.
Sofrerá profundamente, até quando sua validade durar.
laguna
os olhos começam água
começam gota à gota
liquefazerem-se
e os restos
tão sólidos,
insistem permanecendo
para verem cegamente
restos fenecendo.
estranheza
Você me lembra o ipê.
Florir.
Pra quê?
atrasos
Sou um assassino compulsivo de horários,
mal posso vê-los para
Matá-los
Quando com o palavra
no papel me deito,
Dou luz a isto;
pequeno poema d'efeito.
Tifo
Noite quente
sem sentido,
Hoje: Morte
Amanhã: duvido...
Inté
13 de ago. de 2010
Morto....Vivo....Morto....
Blá, blá, blá...
Pousou como pedra,
Fez cara de mineral,
Fingiu não pensar
não sentir,
mover não,
Ficou estátua
"Quem dera
a dor do movimento
se curasse
com a paralisia"
as três vidas
Não.
Por quê?
Sim.
Contacto
Perto demais,
perto demais,
Estou perto demais de mim
para entender-me.
E então,
como entender quem é
o outro?
Só ando com medo
de conhecer-te-lo-me.
Apavoro aproximação,
por que tenho medo de ser.
Ser outro sendo eu.
Ser eu sendo outro.
MorrNascendo a cada transfigurção.
In Precisões
Não tenho necessidade nenhuma.
Minto, tenho sim,
Tenho necessidade de
sentir necessidade alguma.
Inté
4 de ago. de 2010
Limpe sua consciência, menino!
Pobre Vida Pobre
Tinha vida,
Ah, e como tinha!
Como dizem
tinha vida para dar e vender.
E vendeu,
naqueles tipos de prestações que diminuem com o tempo.
Não, não deu a ninguém;
a valorização era muito boa
e tal desperdício seria inadmissível...
afinal, estamos falando de vidas.
A barganha pareceu boa,
apertos de mãos,
carimbos assinados,
e cada caneta rindo da vantagem que acabava de tomar,
orgulhos que são bem confortados nas amenidades comerciais
Essas letras secretas do escambo.
Uma levava uma vida,
outra prestações.
Nunca se soube quem saiu no prejuízo
uns disseram que as prestações eram muito pequenas
que o tipo de consórcio não era lá um dos melhores.
Alguns Advogados amigos mais exaltados
bradaram:
"— Isso É Caso De Justiça, Defenderei Sua Causa No Tribunal
E Te Trarei A Honra Digna Dos Honestos."
outros disseram que não se era mais uso,
bancar vidas completas por conta própria.
os juros eram muito altos,
e as garantias eram seriamente pequenas.
Já se é uso a compra parcial de vidas.
Que além de ser muito menos arriscada,
os custos seriam ínfimos por serem bancáveis por múltiplos investidores.
"— novos tempos, novos hábitos."
- riram todas as gravatas frouxas em volta da mesa do bar.
Mas não,
as duas partes ouviam surdas
as opiniões alheias.
Concordavam
que
nunca fizeram melhor negócio de suas vidas.
ameaça
Era uma fera
Grrrrrrr...
De dentes lixados
e garras aparadas
Caixola
O que guardo na mão?
Dedos.
O que guardo na cabeça?
Idéias.
Vaga memória
E o meu nome,
ando esquecendo,
Tento lembrar dele
balbuciando todas sílabas
...
...
...
Dê-me uma Listel,
acho que lembro meu telefone.
Proder
Poder se apoderar
Podendo poder tudo,
Podendo tudo,
Phodendo tudo,
E podendo sair
pôs pregas.
para assim poder ser visto,
e assim poder poder poder
Poder poderoso poder
Podendo poderios podres
Poder
Proder.
Limpeza
Nada como limpar a consciência
com um papel higiênico
100% reciclado
Inté
14 de jul. de 2010
Rain dance
[aperto]
[Eu, me sinto
Eu, mi cinto]
Herança
O que resta do índio?
Uma mandioca transgênica.
Juros
Inté
26 de jun. de 2010
BUM!
Animaux
com a faca e o sangue na mão,
o assassino julga-se acidente,
com a doidura acalmada, e o arrependimento na porta
a razão dá as caras,
e com um riso irônico
te condena,
Sofra por não ter pensado,
é animal ou é gente?
E o carimbo te mata,
maldita faca latente.
Crença
Ambos
O diabo
e o sacristão,
acreditam em deus
Ainda verão sol
Sol ainda verão
Ainda verão, sol
Só verão
Sol só
o verão!
Bons Valores I
Nunca falte com o respeito,
mesmo quando te diz respeito desrespeitar.
Não ouse cometer pior defeito,
Respeito sempre em primeiro lugar
Inté
12 de jun. de 2010
Pode passar senhor...
Junho, e que venham os vestibulares já comprei minhas armas.
Dentadura
Entre o riso mais diplomático
no viés do vão entre os dentes
há mais perigosa cárie
mais corrosiva,
mais indecente
Nesse vão mais vazio,
nessas falas mais vagas
no seu oco mais fundo, escuro e sujo
é aí que surgem seus caninos
esses dentes que afio, desses que fujo
Não por natureza canídea
nem por maldade demoníaca,
mas por que ser também rosna
quando outro dente o desafia
rosna, quando sangue lhe esquenta
quando outro dente em sua carne se enfia
E o algoz?
o pior é identificá-lo.
Trazer a etiqueta à testa;
de quem?
são tantas testas,
tantas,
Tantas, que até cobri
minha testa delas.
Não tenho mais paz,
só etiquetas.
Sobre meu caoso
É tempo de boca muda,
é tempo,
de descrer os velhos valores,
que já apodrecem dentro do corpo,
Tão mudo, que dentro grito mil discursos
e uma boca só,
quem dera o problema fosse só dizer,
desmudar, desnudar,
Antes de tudo é preciso mudar,
e tudo que isso traz por consequência.
E os olhos espantados
olham com tanto espanto,
que já se é capaz de se espantar
de olhos fechados.
26 de mai. de 2010
Eu empacoto, Tu empacotas, Ele empacota ...
Iow, o último não fui eu quem inventei. Um amigo meu disse e eu só transcrevi.
Porta-treco
Queria fazer mais mil coisas
mil coisas
mil coisas
Eu ter que ser mais mil coisas
mil coisas
mil coisas
Eu tenho que ter mais mil coisas
mil coisas
mil coisas
Cá dentro repleto de coisas
mil coisas
mil coisas
Cabulo, vou sendo; que coisa?
mil coisas
mil coisas
Compro-me, vendo-me, parto-me, me coisas
mil coisas
mil coisas
Enjoo de ser só que coisa!
mil coisas
mil coisas
Mais mato, mais nascem, mais coisas
mil coisas
mil coisas
Mas coisas não morrem, são só coisas
mil coisas
mil coisas
Então sou eterno, sou coisa,
mil coisas
mil coisas
Larga de doido fala coisa com coisa
mil coisas
mil coisas
Para com isso, vai tomar alguma coisa
mil coisas
mil coisas
Que raiva, que raiva
mil coisas
mil coisas
Que nada, que nada
mil coisas
mil coisas
Misturo-me coisas
mil coisas
mil coisas
mil coisas
Não quero mais contar, não quero ser mais coisa
mil coisas
mil coisas
Que eu não são um, que eu é mil coisas
mil coisas
mil coisas
Que só troca palavra, que só troca as coisa
mil coisas
mil coisas
Me troco por mim, me escambo por coisa
mil coisas
mil coisas
Mostrei o país
a guerra
as mortes
os morros
as classes
os apês
os mangues
Mostrei as cabeças
as faces
os rostos
os desejos
as raivas
os paradoxos
as desavenças
Mostrei as gentes
as faces da guerra
a morte nos rostos
os desejos dos morros
as raivas das classes
os paradoxos dos apês
as desavenças do mangue
Mostrei?
Não!
Está à mostra.
Vieuda
Ah! Vida cheia de curvas,
Cheia de curvas vida
Por que não me mostra?
Cá está a reta.
Venha cá, siga essa seta.
Mas vida,
agora notei que você não á nada,
é um pano branco,
uma voz alheia,
que de ser eu, nada;
vida!
Não.
Sou só ser vivo.
E isso é o pior,
minha vida de mim,
não dependo de carregar algo,
empurrar algo,
puxar algo,
enterrar algo,
Devo só me viver,
Viver-me!
Fazer de mim eu mesmo
de mim eu vida
De vida eu
Eu sou Vida
Eu sou Eu
Vida sou Eu
Vida sou Vida
Vidaeu
Videua
Uvieda
Davieu
Aeiudv
Edivau
Vieuda
VIEUDA.
É pra mim comer.
É pra mim comer, mesmo.
Vai ser eu que vou comer,
Então eu como do jeito que eu quero
Inté
17 de mai. de 2010
[E nada existe, nada mais essência/ Tudo aspa e reticência]
Super bonder
Tire o meu caminho,
da minha taça,
do meu vinho,
Não a mim,
Não ao não,
escravo meu,
escravo eu de mim,
ao berço feito de fim,
estante,
estado,
Jogado,
eu jogo o jogo,
eu jogo meus dados,
feitos dos cacos quebrados,
como casca quebrada de ovo.
Puzzle,
visível,
indivisível,
incrível,
quebradiço nível,
indiviso indivíduo.
Ser adulto,
rijo,
calejado,
E a pele nova
olha a pele velha,
só vê calo,
E a pele velha
olha a pele nova,
só vê frágil,
Me diz
Qual pele vê outra?
Se pele sem olho,
se pele só cega,
Se pele,
peço que pense,
peço que sinta,
sinta na pele,
o que é ser na outra pele.
Pele pelada.
Pelo outro
Pele outra
Tantos Nordestes,
Tantos Nordestes,
andam espalhados,
migrando nas casas,
vejo mais ardente sol em toda cidade.
Em toda mulher, todo homem,
já soou o mais ritmo Nordeste.
Em todo canto há um caco,
pedaço Nordeste,
quebrado em cada cidade,
disperso no vento de cada paragem.
Ah! Sublimas-te o sertão, maldito sol agreste,
Respira-se Nordeste,
Transpira-se Nordeste,
Chove-se Nordeste,
Alaga-se Nordeste,
Chora-se Nordeste,
Come-se Nordeste,
É raiz,
mais seca,
mais cacto,
mais sol,
mais vermelha,
Maior,
Maior raiz!
Mais rasa,
Mais profunda,
mais Nordeste,
mais Raiz!
por enquanto permanece
por enquanto tudo é, tudo está
por enquanto ainda aguentamos
por enquanto só esperança
por enquanto só espera
por enquanto o futuro
por enquanto amanhã melhor
por enquanto dia inferno
por enquanto liquidação
por enquanto prisões
por enquanto, enquanto o encanto dura
por enquanto
enquanto
por quanto?
até quando?
Dez caminho
Eu perdi a via
e encontrei o chão,
não há pior maldição,
que ver que tudo é caminho.
Mais do que só aquela,
só aquela velha via.
in visto
re visto
por isso em mim eu mesmo insisto]
Inté
8 de mai. de 2010
Saia deste corpo, que ele não te pertence!
Nada pra dizer além do que já digo.
Alma
Desconheço a alma,
não a conheço; em mim não sei.
Se a perde, também perde a calma?
enquanto chora velório, somente rirei.
Parte essência? Essencial?
Burrice criar verdade tão invisível.
Como achar a vida em algo tão anti-vital.
Um éter, um vago, uma vida em outro nível.
"Como contesta, ser de alma vil e pobre?"
Sinto muito, não sou alma. Sou gente.
Às vezes sua alma-nobre, é gente mais podre
Creia uma crença de um ser assim tão crente,
que dessa vida só idéia sobre.
Morro sem alma, mas vivo humanamente.
Pegue uma pessoa,
ou uma peça anatômica,
como queira.
A estire em uma maca,
Disseque e diga.
Os genes, enzimas, órgãos, hormônios, sinapses.
Justifique assim, os atos e impulsos,
as saudades e dores,
" - Mas não seria um caso de distúrbio do hormonônio CLMNJK32227?
- Boa análise. Tomem nota, essa proteína tem..."
Use seus olhos,
como se esses fossem de vidro.
Se esses já não forem.
Ele lia tanto,
lia, mas lia tanto,
tanto que lia,
lia tanto, tanto, TANTO!
Que virou um livro.
Suas mãos eram folhas,
suas idéias eram citações,
sua altura era em parágrafos,
sua religião eram sermões
Estranho ele se tornou,
ilha de livro,
ao menos tornou-se inteligente.
homem-livro.
Tudo o que ria era teoria
Não via,
não falava,
não pensava,
só lia.
A noite acaba,
quem sobrevive ao dia?
e os dias frios,
gelam as calçadas,
e o motor ainda funciona,
exala carbono,
E frio ainda funciona?
Ainda gela?
não quem percebe o clima,
não o cientista,
não o político,
não eu,
Mas quem percebe é a calçada,
é a favela,
é a falta,
do mundo,
a falta,
cheia de frio
Murmurrar
Já foi meu tempo?
Já foi minha vida?
De mim nem se despediu,
Adeus!
Disse ela.
Eu não ouvi,
por que sou meio surdo?
Fale mais alto,
Fale mais alto, minha vida,
Que eu te ouço.
Quero resgatar,
Resgatar seu humano,
Resgatar ser humano,
Não um bombeiro,
que te recupera só da ponta da vida.
Não um médico,
que te recupera da febre da vida.
Não um terapeuta,
que te recupera para os dias da vida.
Não uma puta,
que resgata um prazer da vida.
Não um carcereiro,
que resgata o comportamento da vida.
Não um lixeiro,
que resgata a dó da vida.
Não um deus,
que resgata a morte da vida.
Não um diretor,
que resgata a regra da vida.
Quero me resgatar em você,
e resgatar o que há de você em mim.
Um resgate,
talvez seja isso que precisamos.
Inté
30 de abr. de 2010
Na mira do verso
Finalizando mês.
Identidade
Por onde?
Por onde?
POR ONDE ANDA?
por onde anda minha identidade,
me desespero, não a tenho por perto;
não a tenho a mão,
não a aparo, não a sinto,
Será que anda por aí?
rondando as esquinas e os becos escuros,
as ladeiras, os morros, as lixeiras, as cadeias,
será que nas tardes antigas simplesmente a perdi?
esquecida num banco, numa mesa, numa gaveta;
Aonde?
Por onde?
Andando? Rondando? Rodando?
Está por aí? Identidade minha.
Ah! Tu me afastas, e receio eu tenho.
que de mim você tenha sido roubada.
Será que me arrancaram de si quando menos sabia?
Quando menos esperava?
Surdina?
Ou mesmo, tu nem éras minha,
era um produto,
de mim malfeito,
por mim não feito,
um algo.
Externo?
Procuro-te, fuga forçada.
Por onde?
Por onde?
POR ONDE ANDA?
por onde anda minha carteira?
E queimar dinheiro, ninguém faz,
Porque não cria raiva dele,
das mãos manipuladoras,
das manipuladoras notas,
Mas não, raiva custa muito caro!
E o moderado,
permanece,
sobrevive a balança de cobre,
Fica, aí.
Ali.
Parado?
Balançando os pesos.
Nunca se encontra em semelhante,
se discorda, concorda
pesa,
E a balança moderada,
balança, balança,
mas não pesa nada,
São dois pratos,
não só dois, vários,
que disputam a
hegemonia,
E o moderado permanece,
não sei se por fraqueza,
não sei se por medo,
Modera, modela
O que será?
O que será ela?
O que será se não
Flexibilidade vergonhosa.
Não passa de nada,
mas se orgulha de ser imparcial,
ver todos os lados,
ser queridos em todos,
todos os cantos.
todos os cantos?
És querido assim?
Por achar-se de metades tão divergentes,
acha tua glória.
Decadente,
decadente glória,
por não perder nada,
se acha vitória.
Por não ser nada,
acha ser tudo,
E o seu prato, o mais raso,
Diz ser o mais fundo.
Inté
15 de abr. de 2010
Recordar é viver
Céu
Céu seu,
seu meu
que teu
é nosso
Infinito seu
azul dum céu
que em mi cresceu.
És vosso
Seja plebeu
quem não tem seu céu.
Que o meu prometeu
o que nunca posso
Ó céu tão seu
que teu é meu,
o qual sem breu
a noite emposso
Céu,
plana teu véu
Pois no teu corcel,
o infinito desposo
Esquenta o mundo
Derrete a vida
Esfria o homem.
Brasil, dois lados
Um é a coroa
Outro sem moeda.
Riqueza de pobre,
Pobreza de nobre,
Medalha de cobre.
O homem,
com a tecnologia,
computa dor.
Prove quem você é,
ao lamber do seu conhecimento,
ao provar-se do seu gosto,
no voar do pensamento
Prove-me, é o que me pedem
mas como serei nem mesmo o que sei?
será então eu
tudo que já provei?
Um pouco de cada canto,
um dente de cada riso,
cada história que ouvi,
cada passo, cada piso?
Não seríamos prova,
de que todos somos notas,
e notamos que somos prova
ao provarmos de nós mesmos?
Inté
11 de abr. de 2010
Anatomia cardíaca moderna
Os versos estão estendendo-se mais, espero que não seja eu que esteja os esticando.
Casco
Mesmo ao corpo inerte do dia,
boca suja de café,
farelo na camisa,
pés calçados,
mochilas atochadas,
enxergo um pulso minguado,
Mesmo no seu sorriso plastificado,
nos olhos vidrados, na feição alegre,
ainda acho calor.
Injeto-lhe não formol na carne,
mas sim meu sangue, meu vinho.
A estátua ganha movimento
robótico.
Mas...
esse robô?
Quem é?
Espelho?
Pintura?
Miragem?
Carece dos dias,
por sua dose diária de semi-vida.
No despertar ainda desanda,
não lhe espalhou direito,
não lubrificou gesto.
Anda,
Marcha,
Compassa,
Compasso,
E vai, cumprindo as horas,
batendo pontos,
resistindo,
seguindo,
passando,
passado.
Meio geométrico,
cúbico,
debaixo de casa cerâmica,
ainda jaz uma carne pulsante,
Cada dia que passa, mais imobilizado,
Até a última tripa
tornar-se pistão,
pistão de pedra,
uniforme.
Abra seus braços,
Como um avião voando no céu, planando nos membros estendidos,
acima de todos,
acima da terra,
acima da serra.
Das suas leis, hiper-ultra-mega-além-humanas,
está rondando no céu?
Qual céu seu é?
Está ainda assim, preso.
fincado na terra, no solo, no seu peso unânime,
estacou-se nas leis,
nas leis gravitacionais.
porque abre o braços?
a cruz ainda te acompanha,
ou quer um abraço mundano,
ou está nos cercando em sua prisão,
ou foi preso, olhou para seus fuziladores e gritou: - Perdoo,
ou uma estátua de metal, de pedra, de sabão,
ou um presente entre nações, amenidades,diplomáticas,
ou um dom artístico, vitruviano, proporcional, "belo",
ou um livro de boas e novas, pregado na cruz.
Fazendo jus ao seus dizeres, lambe nuvens.
tua cabeça voa, ouve cantos gregorianos,
Mas notei, teus pés e escadaria, vejo furos de bala,
dormem sob seus braços, como fossem marquises, mendigos.
E batem neles polícias, enviados pelas leis,
dos homens.
É cercado de favelas e casas-barraco, por lama, por deslizamentos.
Mar, mar de lama mundana.
Sobrevoa, sobrenada, a lama humana?
Ah! Não te esqueça, estátua. Também não vieste do barro?
É o ouro dos olhos
dos olhos dourados
tão preciosos olhares
pupilas valiosas, valiouras,
Tão negra ou tão azul,
a pedra do teu ver
qual olho que olho?
Como olho o olho
como olho o olho,
olhar-óleo,
olho olhar,
óleo-olho,
incendeia visão.
Inté
30 de mar. de 2010
Monta-cabeça
Finalizando o mês. Planos em latência
Cri, cri,cri,cri ...
O que falar com o outro?
O que falar quando o assunto acaba?
As notícias foram comentadas, com comentários de cada um dos jornais das 6.
As piadas, já piaram nos ouvidos,
E os risos já foram calados,
Paira no ar o silêncio...
E como temos medo dele, parece que só somos humanos quando somos cheios,
repletos, gordos, fartos,
de assuntos, opiniões, críticas, recados, notícias, coisas importantes.
Ficamos assim, deflagrando olhos, e olhando as bocas cerradas,
Estranho, incômodo.
Qual assunto nos falta para nos bastarmos dessa estranha sensação de ser ser incompleto?
... E vivo de impasse
Entre luz e sombra
Entre mim e o outro
Entre o céu e o inferno
Entre a vida e a morte
Estou dividido
Em dez, partes, partido
Vivo dezequilibrando
equi-librando,
desmedindo,
pesando,
pensando,
agindo,
parando,
gerúndio...
Água amarga,
choras ao engolida,
mas a guarda como presente traiçoeiro,
como cavalo tão troiano,
como veneno tão medonho,
Raivosa e paciente,
formiga o coração e range a força dos dentes.
Verás!
Engole tão bolo de rancor que se prende na garganta,
engole seco, entala voz.
Mas arde, semente malévola,
cresce em árvore,
vira-se pedra.
Inté