30 de abr. de 2010

Na mira do verso



Finalizando mês.


Identidade

Por onde?
Por onde?
POR ONDE ANDA?
por onde anda minha identidade,
me desespero, não a tenho por perto;
não a tenho a mão,
não a aparo, não a sinto,

Será que anda por aí?
rondando as esquinas e os becos escuros,
as ladeiras, os morros, as lixeiras, as cadeias,
será que nas tardes antigas simplesmente a perdi?
esquecida num banco, numa mesa, numa gaveta;

Aonde?
Por onde?
Andando? Rondando? Rodando?
Está por aí? Identidade minha.

Ah! Tu me afastas, e receio eu tenho.
que de mim você tenha sido roubada.
Será que me arrancaram de si quando menos sabia?
Quando menos esperava?
Surdina?

Ou mesmo, tu nem éras minha,
era um produto,
de mim malfeito,
por mim não feito,
um algo.
Externo?

Procuro-te, fuga forçada.
Por onde?
Por onde?
POR ONDE ANDA?
por onde anda minha carteira?



Desgrana

E queimar dinheiro, ninguém faz,
Porque não cria raiva dele,
das mãos manipuladoras,
das manipuladoras notas,

Mas não, raiva custa muito caro!



Pesos

E o moderado,
permanece,
sobrevive a balança de cobre,

Fica, aí.
Ali.
Parado?
Balançando os pesos.

Nunca se encontra em semelhante,
se discorda, concorda
pesa,

E a balança moderada,
balança, balança,
mas não pesa nada,

São dois pratos,
não só dois, vários,
que disputam a
hegemonia,

E o moderado permanece,
não sei se por fraqueza,
não sei se por medo,

Modera, modela
O que será?
O que será ela?
O que será se não
Flexibilidade vergonhosa.

Não passa de nada,
mas se orgulha de ser imparcial,
ver todos os lados,
ser queridos em todos,
todos os cantos.
todos os cantos?

És querido assim?
Por achar-se de metades tão divergentes,
acha tua glória.

Decadente,
decadente glória,
por não perder nada,
se acha vitória.

Por não ser nada,
acha ser tudo,
E o seu prato, o mais raso,
Diz ser o mais fundo.







Inté

15 de abr. de 2010

Recordar é viver





Ai ai... Velhos tempos! Juntei alguns textos que escrevi uns anos atrás, o "Céu" e o "Provas" eu fiz no primeiro ano (2008). Entendam, eu tinha acabado de aprender a rimar. Achei interessante olhar o estilo que era e comparar. Os Hai Cai's são do nono ano, ex-oitava série (2007) eu selecionei esses aí. Tinha feito um trabalho que precisava de 10 Hai Cai's, acho que foi aí que começou minha encrenca com versos (Valeu Tia Cida! [ou não] ). Esses textos estavam num outro blog que eu tinha: "Meu lado crônico e fulminante" (nasceu em 2008, morreu em 2009; segundo meus cálculos), um dia deletei ele para criar esse. O nome talvez tenha melhorado, o escritor não. O resto é história. rs.



Céu

Céu seu,
seu meu
que teu
é nosso

Infinito seu
azul dum céu
que em mi cresceu.
És vosso

Seja plebeu
quem não tem seu céu.
Que o meu prometeu
o que nunca posso

Ó céu tão seu
que teu é meu,
o qual sem breu
a noite emposso

Céu,
plana teu véu
Pois no teu corcel,
o infinito desposo



Hai Cai

Esquenta o mundo
Derrete a vida
Esfria o homem.

Brasil, dois lados
Um é a coroa
Outro sem moeda.

Riqueza de pobre,
Pobreza de nobre,
Medalha de cobre.

O homem,
com a tecnologia,
computa dor.



Provas

Prove quem você é,
ao lamber do seu conhecimento,
ao provar-se do seu gosto,
no voar do pensamento

Prove-me, é o que me pedem
mas como serei nem mesmo o que sei?
será então eu
tudo que já provei?

Um pouco de cada canto,
um dente de cada riso,
cada história que ouvi,
cada passo, cada piso?

Não seríamos prova,
de que todos somos notas,
e notamos que somos prova
ao provarmos de nós mesmos?



Inté

11 de abr. de 2010

Anatomia cardíaca moderna



Os versos estão estendendo-se mais, espero que não seja eu que esteja os esticando.



Casco

Mesmo ao corpo inerte do dia,
boca suja de café,
farelo na camisa,
pés calçados,
mochilas atochadas,
enxergo um pulso minguado,

Mesmo no seu sorriso plastificado,
nos olhos vidrados, na feição alegre,
ainda acho calor.
Injeto-lhe não formol na carne,
mas sim meu sangue, meu vinho.

A estátua ganha movimento
robótico.
Mas...
esse robô?
Quem é?

Espelho?
Pintura?
Miragem?

Carece dos dias,
por sua dose diária de semi-vida.
No despertar ainda desanda,
não lhe espalhou direito,
não lubrificou gesto.

Anda,
Marcha,
Compassa,
Compasso,

E vai, cumprindo as horas,
batendo pontos,
resistindo,
seguindo,
passando,
passado.

Meio geométrico,
cúbico,
debaixo de casa cerâmica,
ainda jaz uma carne pulsante,
Cada dia que passa, mais imobilizado,

Até a última tripa
tornar-se pistão,
pistão de pedra,
uniforme.



T

Abra seus braços,
Como um avião voando no céu, planando nos membros estendidos,
acima de todos,
acima da terra,
acima da serra.

Das suas leis, hiper-ultra-mega-além-humanas,
está rondando no céu?
Qual céu seu é?
Está ainda assim, preso.
fincado na terra, no solo, no seu peso unânime,
estacou-se nas leis,
nas leis gravitacionais.
Tenho dúvida,
porque abre o braços?
a cruz ainda te acompanha,
ou quer um abraço mundano,
ou está nos cercando em sua prisão,
ou foi preso, olhou para seus fuziladores e gritou: - Perdoo,
ou uma estátua de metal, de pedra, de sabão,
ou um presente entre nações, amenidades,diplomáticas,
ou um dom artístico, vitruviano, proporcional, "belo",
ou um livro de boas e novas, pregado na cruz.

Fazendo jus ao seus dizeres, lambe nuvens.
tua cabeça voa, ouve cantos gregorianos,
Mas notei, teus pés e escadaria, vejo furos de bala,
dormem sob seus braços, como fossem marquises, mendigos.
E batem neles polícias, enviados pelas leis,
dos homens.
É cercado de favelas e casas-barraco, por lama, por deslizamentos.
Mar, mar de lama mundana.
Porém a ti não respinga nenhum pingo de sujo?
Sobrevoa, sobrenada, a lama humana?
Ah! Não te esqueça, estátua. Também não vieste do barro?




Pepita

É o ouro dos olhos
dos olhos dourados
tão preciosos olhares
pupilas valiosas, valiouras,

Tão negra ou tão azul,
a pedra do teu ver
qual olho que olho?

Como olho o olho
como olho o olho,
olhar-óleo,
olho olhar,
óleo-olho,
incendeia visão.








Inté