11 de abr. de 2010

Anatomia cardíaca moderna



Os versos estão estendendo-se mais, espero que não seja eu que esteja os esticando.



Casco

Mesmo ao corpo inerte do dia,
boca suja de café,
farelo na camisa,
pés calçados,
mochilas atochadas,
enxergo um pulso minguado,

Mesmo no seu sorriso plastificado,
nos olhos vidrados, na feição alegre,
ainda acho calor.
Injeto-lhe não formol na carne,
mas sim meu sangue, meu vinho.

A estátua ganha movimento
robótico.
Mas...
esse robô?
Quem é?

Espelho?
Pintura?
Miragem?

Carece dos dias,
por sua dose diária de semi-vida.
No despertar ainda desanda,
não lhe espalhou direito,
não lubrificou gesto.

Anda,
Marcha,
Compassa,
Compasso,

E vai, cumprindo as horas,
batendo pontos,
resistindo,
seguindo,
passando,
passado.

Meio geométrico,
cúbico,
debaixo de casa cerâmica,
ainda jaz uma carne pulsante,
Cada dia que passa, mais imobilizado,

Até a última tripa
tornar-se pistão,
pistão de pedra,
uniforme.



T

Abra seus braços,
Como um avião voando no céu, planando nos membros estendidos,
acima de todos,
acima da terra,
acima da serra.

Das suas leis, hiper-ultra-mega-além-humanas,
está rondando no céu?
Qual céu seu é?
Está ainda assim, preso.
fincado na terra, no solo, no seu peso unânime,
estacou-se nas leis,
nas leis gravitacionais.
Tenho dúvida,
porque abre o braços?
a cruz ainda te acompanha,
ou quer um abraço mundano,
ou está nos cercando em sua prisão,
ou foi preso, olhou para seus fuziladores e gritou: - Perdoo,
ou uma estátua de metal, de pedra, de sabão,
ou um presente entre nações, amenidades,diplomáticas,
ou um dom artístico, vitruviano, proporcional, "belo",
ou um livro de boas e novas, pregado na cruz.

Fazendo jus ao seus dizeres, lambe nuvens.
tua cabeça voa, ouve cantos gregorianos,
Mas notei, teus pés e escadaria, vejo furos de bala,
dormem sob seus braços, como fossem marquises, mendigos.
E batem neles polícias, enviados pelas leis,
dos homens.
É cercado de favelas e casas-barraco, por lama, por deslizamentos.
Mar, mar de lama mundana.
Porém a ti não respinga nenhum pingo de sujo?
Sobrevoa, sobrenada, a lama humana?
Ah! Não te esqueça, estátua. Também não vieste do barro?




Pepita

É o ouro dos olhos
dos olhos dourados
tão preciosos olhares
pupilas valiosas, valiouras,

Tão negra ou tão azul,
a pedra do teu ver
qual olho que olho?

Como olho o olho
como olho o olho,
olhar-óleo,
olho olhar,
óleo-olho,
incendeia visão.








Inté

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pense bem antes de falar, ou fale bem antes de pensar.